Lisboa diária
Começou agora a campanha oficial para a Câmara de Lisboa, e a primeira conclusão é a de que José Sá Fernandes ganhou em pleno tudo o que até agora houve para ganhar. Falta votar, claro, e isso é agora o que mais importa. Falta, depois, fazer muita coisa, e mostrar muita coisa, e chamar muita gente, e preparar Lisboa para em 2009 (com uma Assembleia Municipal renovada) se livrar de vez dos vampirinhos de carnaval que a têm filado desde há décadas. Mas a Lisboa de que se fala agora é a Lisboa que Sá Fernandes mostrou, e não aquela que os seus adversários gostariam que nos bastasse.
Quem acharia hoje possível impressionar o mais patarata dos lisboetas com um candidato que se lançasse ao Tejo a nado? Quem se lembraria hoje de anunciar obras de arquitectos megalómanos para "marcar" a cidade? Quem se atreveria a propor em voz alta alguém como o tragicómico doutor Carrilho como candidato? Mas ainda há uns anos era com números de circo desse género que se ganhavam - e se perdiam - eleições autárquicas.
Desde o primeiro debate público, o da SIC, ficou clarinho que quem ditou a agenda foi o candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda. Rapidamente todos entenderam que desta vez não bastariam o rigor, a competência e mais as outras coisas todas que já sabemos que todos têm. Desta vez, a casa já sabe do que a casa gasta, e isso não se deve a mais ninguém. Podia ter-se devido - também - a Maria José Nogueira Pinto, que desperdiçou a oportunidade da sua vida.
E agora temos todos a falar de Lisboa, ou a fingir que falam dela quando não sabem o que hão-de dizer. Se Fernando Negrão tem o ar atarantado de quem se vê no palco sem ter sequer lido o guião da peça, se Telmo Correia se refugia na pose nerd do tecno-varredor da Câmara, se António Costa debita vacuidades governativas com o sorrisinho de mono liso a que no Governo nos habituou, se Roseta murchou mais depressa que um manjerico pífio, se Carmona Rodrigues acha que é um trunfo conhecer a Câmara - e que a conhece sabemos nós bem - é apenas porque nenhum deles sabe, nem pode, nem quer, responder claramente às perguntas do grupo Lisboa é Gente: afinal, que querem fazer em concreto? A comédia rápida que as campanhas costumam ser transformou-se para eles numa espécie de interminável filme de Manoel de Oliveira: só Rebelo de Sousa, com a sua lucidez feita de veneno, avisou que era dramático tanto tempo até às eleições. Pois é.
A procissão vai no adro. E todos estes senhores - menos o Dr. Telmo - serão vereadores ansiosos por liderar a oposição. Quem havia de dizer? José Sá Fernandes já ganhou - cumprindo o que nos prometeu há dois anos. E nós vamos ganhar agora também - cumprindo o que há dois anos lhe prometemos: Lisboa é gente, e Lisboa é gente decente.
1 Comments:
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