Caso sério, séria gente
Então continuemos. Em Portugal, a imprensa acrescenta mais alguns dados, sem os apresentar em conjunto: coisas para entreter no Verão. Na região central da Hungria, 230 mortos esta semana devido ao calor, 30% acima do que seria de esperar nesta época do ano. 30 mortos na Roménia. Na Macedónia e na Grécia, falhas de electricidade com uma temperatura acima dos 40.º.
A CNN dá pormenores sobre a Inglaterra, onde o novo Primeiro Ministro fala em mil e seiscentos milhões de libras de prejuízos. Algumas centenas de milhões de euros serão, provavelmente, reclamados às Seguradoras: é por isso que estas são - enquanto se não conseguirem libertar dos seguros climáticos - as mais fiáveis das grandes empresas nas declarações que façam sobre o assunto. Há umas semanas deixei aqui referência a um representante da Swiss Re, uma das maiores: o senhor que falava dos ciclones tropicais em Lisboa daqui a uns vinte anos.
Tornar-se-á mais forte a consciência ambiental da Grã-Bretanha e o seu papel como a única potência do mundo a sentir-se na necessidade de mudar o estado de coisas? Havemos de ver.
O Independent publicou, no dia 22, a notícia mais importante: pela primeira vez na História, o National Petroleum Council, uma organização da grande indústria (a ExxonMobil, a Shell, a BP...) petrolifera mundial que assegura determinadas ligações ao governo americano, publicou um relatório em que admite a hipótese de o abastecimento de petróleo e gás natural poder ser mais ou menos seriamente afectado a partir de ... 2015, com "perturbações" a começar daqui a cinco anos. Até agora, a indústria sempre afirmou que o aumento da oferta seria suficiente para enfrentar o acréscimo da procura no período necessário para encontrar as soluções mirabolantes que há décadas nos andam prometendo. Agora, preparemo-nos para o curto prazo. Pois.
"A shortage of oil and gas", acrescenta o Independent, "has been predicted to cause industrial collapse, market crashes, resource wars and a rise in poverty. Some forecast that fascist regimes will rise out of the chaos.". Preciso traduzir?
O ambiente faz-nos pensar em árvores, e por falar em árvores soube-se hoje que o Ministério Público deduziu acusação no chamado "caso Portucale". Cito o "Público on-line":
"O caso Portucale relaciona-se com o despacho que declarou a “utilidade pública” de um projecto do GES para um empreendimento turístico em Benavente, autorizando o abate de mais de 2.500 sobreiros e que foi assinado pelos ex-ministros Costa Neves (Agricultura), Nobre Guedes (Ambiente) e Telmo Correia (Turismo), a escassos dias das eleições legislativas de 2005.
O despacho, sustenta a acusação, terá sido feito a troco de contrapartidas financeiras no valor de um milhão de euros que terão revertido a favor do CDS-PP, de quem Abel Pinheiro era director financeiro." [fim de citação]
Além de Abel Pinheiro, três responsáveis de uma das sociedades do Grupo Espírito Santo são também acusados.
Devo dizer que me estou nas tintas para a chamada "dimensão política do escãndalo" desta coisa. Já não estou quando vejo um Ministro do Ambiente, num governo de gestão, a declarar a utilidade pública de um empreendimento de um grupo financeiro. O "turismo" e o "imobiliário" são as cenouras à frente dos burricos. E sim, também me não estou nas tintas para o grupo presidido pelo Senhor Ricardo Salgado.
6 Comments:
o "National Petroleum Council"......"admite a hipótese"...
Possivelmente o NPC também admite outras hipóteses. A referida no post tem a propriedade de contribuir de algum modo para alimentar a especulação em torno do petróleo, cujos preços actuais são amplamente considerados como sendo especulativos e artificiais. Não creio que os senhores que se fazem representar no NPC tenham grandes dores de cabeça com os níveis actuais desses preços.
"A shortage of oil and gas", acrescenta o Independent, "has been predicted to cause industrial collapse, market crashes, resource wars and a rise in poverty.
Mesmo sem escassez de recursos os fenómenos descritos não cessaram de ocorrer ao longo do século XX. E mantém-se neste século. Penso que a causa daqueles fenómenos tem mais a ver com uma gestão pouco racional ou mesmo parcialmente errada do planeta do que com uma possível escassez de recursos.
"Some forecast that fascist regimes will rise out of the chaos."
Ou não há uma caracterização comum daquilo a que se chama fascismo, ou a frase anterior parece-me ser uma espécie de tautologia. O fascismo é uma forma de caos, é a institucionalização da barbárie. Recordemos apenas a fanfarronice de Hitler cujo "Reich dos mil anos" não durou afinal mais do que uma dúzia, não sem antes ter sujeitado os povos da Europa àquilo que é amplamente conhecido.
No entanto, o fascismo pressupõe: 1) a existência de estados-nação soberanos; 2) burguesias não submetidas a entidades ou instituições estrangeiras; 3) relação de forças desfavorável aos movimentos operários. Nenhuma destas condições se verifica actualmente. As instituições da União Europeia reduzem as burguesias europeias a uma espécia de "burguesias compradores", típicas dos países do chamado 3º mundo. Por seu lado, o movimento operário europeu resiste às tentativas de integração das suas organizações nas instituições da UE. A UE mais não pode fazer do que tentar "aliciar" as organizações a integrarem-se numa espécie de neo-corporativismo de tipo fascista é certo, mas sem o carácter coercivo e violento do fascismo propriamente dito. Já um hipotético desmantelamento da UE obrigaria a reequacionar os dados da análise, mas em todo o caso a força organizada mais poderosa continuaria a ser o movimento operário com as suas organizações, partidos e sindicatos. Os bandos fascistas não me parecem ter grande substância...
Olá, Tiger!
pelo que eu percebi, a novidade está em que, pela primeira vez, o NPC admite (também) essa hipótese...
O que dizes sobre fascismo e movimentos operários vem de encontro a coisas em que tenho pensado, no seguimento do que vi, li e ouvi nas minhas eleições "bloquistas" de Lisboa... Mais uma vez, vou fazer um texto lá em cima :)
Claro que "fascismo" não é usado - pelo menos por mim - no sentido mussoliniano da palavra; quanto ao Reich, penso que se tratou de uma coisa única. O novo fascismo será uma tecnocracia "progressista", e não uma coisa católico-rural. E muito mais perigosa do que a outra.
Saudações Gold!
Esse novo fascismo que pareces antever assemelha-se mais a uma ditadura burocrático-policial de tipo estalinista do que ao fascismo. No entanto, entre fascismo e estalinismo existem diferenças de natureza muito importantes que seria um pouco entediante estar a discriminar agora.
Então no lugar do Partido no esquema estalinista teríamos o quê? Um conselho de executivos da “eficácia e da consciência ecológica”?... Como é que seriam seleccionados esses executivos?...
Não me é nada fácil imaginar um tal esquema...
Tiger, acorda.
Qual o "modelo"? Em caso de catástrofe social?! Em caso de colapso das redes tecnológicas (multibanco, bolsa de valores, electricidade, transporte de alimentos às grandes cidades)?!
Bem, primeiro é decretado o estado de emergência ou o estado de sítio, depois há um general a fazer uma declaração. São suspensos uma série de direitos e garantias. Tudo isto em dez minutos.
Lembra-te de New Orleans durante os três dias da água. E não confundas isto de que estou a falar da ridícula conversa sobre "derivas autoritárias", bufos na função pública e boys do PS que anda a entreter os jornais.
O estalinismo e o fascismo históricos só interessam hoje aos historiadores e aos skinheads. É curioso que se não entenda como o mundo mudou desde aí.
Acerca do meu estado de vigília ou sono... Passons... Compreendo a tua
exortação, se o futuro que antevês te parece incontornável.
Sobre as situações de catátrofe social, calamidade pública e o decretar de estados de emergência, creio que já abordei o assunto anteriormente, razão pela qual me
dispenso de o fazer de novo.
Em relação aos historiadores convém referir que o seu trabalho interessa a muitas pessoas por varias razões. Eu não serei dos menos interessados... Por exemplo, diverte-me bastante observar os esforços desesperados do(a)s “caiadore(a)s de sepulcros” que tentam branquear o regime fascista (de Salazar/Caetano) e denegrir o 25 de Abril aos olhos das gerações mais jovens. Estas respondem com um justo e merecido sentimento misto de desprezo, pena e repugnância.
Por vezes interrogo-me... O que é que esta gente pretende? Ressuscitar Salazar? Instaurar uma república confessional? Restaurar a monarquia?
Enfim... Desde a impossibilidade ao delírio puro e simples....
Mas alguém está para aturar reis e ditadorzecos no Portugal do século XXI ??
Espantoso que alguém possa alimentar semelhantes quimeras...
Esta divagação, chamemos-lhe assim, ocorreu-me a propósito do revisionismo histórico que alguns tentam ensaiar. Terá algo a ver com historiadores.
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