Sunday, July 31, 2005

Foreign languages?!

Por qualquer razão estranha, o Ministério da Educação considera que proporcionar às crianças a aprendizagem do inglês é ensinar-lhes uma "língua estrangeira".

Talvez tenham uma ideia muito legalista da localização das fronteiras do Império.

Entretanto, as novas gerações da "classe alta" desistiram do francês e do alemão, e rir-se-iam se alguém lhes propusesse aprender árabe, russo, mandarim ou japonês. O latim e o grego são mais raros do que a bondade. Devagarinho, deixo de ser inculto sem aprender uma única coisa.

15 Comments:

Blogger zazie said...

mas a obrigatoriedade do inglês a partir da primária tem como contrapartida a inexistência de aprendizagem de mais línguas? incluindo as mortas como o latim e o grego?

se tem é uma enorme idioteira. Simplesmente não li em lado algum que se propunha isso. Por acaso os liberais defendem que cada escola devia escolher as línguas que bem entendesse e assim não havia uma política única. De certo mordo concordo porque no caso de dar asneira a asneira é global e quanto maior diversidade melhor.
Simplesmente também penso que hoje em dia sem se saber inglês não se pode comunicar. Não é apenas questão de cultura é necessidade prática e técnica. E há por cá centenas de professores em final de carreira que nem os dias da semana conseguem entender em Inglês. E isso sim é que é um enorme défice.

1:07 PM  
Blogger Goldmundo said...

Que eu saiba não tem essa "contrapartida". Mas... tirando alguns colégios para as "elites", achas que vai acontecer o quê?

Também acho importante o inglês (enfim, eu comunico com espanhóis e franceses sem precisar dele...). Mas "língua estrangeira?!" Em que língua é que os nossos adolescentes escrevem versos apaixonados nos seus blogs?!

1:17 PM  
Blogger zazie said...

só não percebo a tua pergunta... mas em que é que há mudança?

até aqui só tinham aulas de inglés no ciclo, agora vão ter mais cedo desde a primária. isto igual em ensino público. Por isso o que é que pode acontecer para além de terem o que já tinham e mais porque a partir de mais pequenos?

o que me parece mau é não se introduzir o latim e o grego e também espanhol e alemão, por exemplo.

Mas o que ainda me parece mil vezes pior é fazer-se isto para as crianças e depois apanharem com professores no 12 quem pouco mais do que ok conseguem dizer ":O)))
e com empregos vitalícos e progressões na carreira à custa de "cursos de modas e bordados" e acções de formação em astrologia ou viaens à neve na Serra Nevada (como ainda há pouco foi denciado)

Quanto aos particulares versus publicos não sei o que queres dizer. Infelizmente vivemos num país com ensino totalitário. Qualquer escola particular que não siga o curriculo estatal não é reconhecida e não pode passar diploma.

2:29 PM  
Blogger zazie said...

já agora, não conheço blogues de adolescentes ":O)))

já me enganei e conheci uns a quem chamava "putitinhos" e na volta eram cinquentões ":O)))

2:30 PM  
Blogger zazie said...

quanto ao inlgês não se trata de comunciar com estrangeiros em viagem. Trata-se de competitividade em termos de mercado. Toda a gente passa a vida a debitar chavões que a Irlanda assim e assado e agora até está óptima e esquecem-se do mais básico. A Irlanda está no eixo anglo-americano e qualquer empresa escolhe um país com essas faciliddades de ligação e entendimento em detrimento de um onde só se fala um língua que nem internacionalmente tem importância
è triste dizer isto mas é assim. Até àfrica preferiu o inglês e Timor vai pelo mesmo. E qualquer português que queira competir lá fora tem os espanhois à frente em termos de língua.
Nós é que ainda continuamos com a ideia que vivemos muito bem aqui na nossa cazinha. E em certa medida é verdade. A UE não serviu para fazer circular pessoas e empregos. Serviu para desembocar refugiados de locais onde não havia pão para a boca.
Mas ainda assim há muitos portugueses a tentarem a sua sorte lá fora. A todos os níveis. Científicos por exemplo. E se não estiverem munidos dessa base de língua nem o mais básico emprego conseguem.O IELTS já é uma instituição...

2:37 PM  
Blogger zazie said...

mas dizes aí outra coisa que também não entendo nem sei em que tipo de relatórios te baseaste.

As classes altas ignoram alemão, desistiram do fracês e "rir-se-iam se alguém lhes propusesse aprender árabe, russo, mandarim ou japonês"

quem? porquê? eu não sei nada disso. O que sei e não tem a ver com classe mas com trabalho é que aprender mandarim é extremamente difícil e não se conseguem professores por cá. Como também conheço quem precisasse de saber japonões antigo e nem eles o conseguem sem muitos e muitos anos de estudo na sua terra e com professores japoneses. Ainda assim, quem precisar de aprender árabe ou russo ou mandarim ou japonês não o consegue fazer sem dominar o inglês porque é por aí que pode ter as traduções mesmo nas aprendizagens mais elementares.
E tanto quanto sei (à parte as classes) é que cada vez mais se necessita de dominar muitas línguas. Eu própria tenho esse défice por ter preferido o latim e o grego em vez do alemão. E um dia destes ainda me meto ao trabalho. E o inglés foi um défice de uma geração apenas por outra questão. Na alura o "império" chamava-se "cultura francesa" e veio com o marquês de pombal. Vivemos muito tempo com essa ligação francesa em tudo. Incluindo na rigidez totalitária dos curriculos. Só muito recentemente essa questão começou a ser posta em causa e o facto não tem nada de negativo e muito menos de matrix de subjugação ao Imperio do Mal ";O)

Mas é pouco. Como disse o pior é que qualquer escola privada tem que apanhar com a enorme competição da estatal (que vive sem dinheiro e cada vez está pior mas ainda assim asfixia as alternativas privadas). E essa competição é tão bacoca que em vez de dar liberdade a sistemas alterativos, obriga a dar mais do mesmo com a agravante de ainda as patrocinarem com dinheiros públicos.

2:51 PM  
Blogger Luna said...

Hoje em dia o inglês praticamente já não é uma língua estrangeira, pelo menos em Portugal. As crianças, desde cedo, ouvem-no na rádio e na televisão e se repararmos nas novas gerações, é muito comum a utilização de nomes ingleses nos grupos musicais, em nomes de estabelecimento e por aí fora. Portugal é uma província do Império.
Goldmundo, quando quiseres, podemos falar sobre os assentos paroquiais. :)

2:15 AM  
Blogger Goldmundo said...

Não me baseio em relatórios.

Conheço dois alfarrabistas em Lisboa, dos que compram e vendem livros baratos (não "antiquários") que já não aceitam, em princípio, comprar livros em castelhano, francês ou alemão. "Não se vendem", dizem eles.

Por ligações familiares ou de amizade com os pais, conheço dúzias de adolescentes que são incapazes de compreender a letra de uma canção de Aznavour ou Brel: não falo de apreciar as subtilezas do poema, falo de distinguir uma canção de amor de um hino da Resistência.

Economistas e gestores com menos de quarenta anos, trabalhando na banca ou no mundo da finança, falam inglês com madrilenos (e uma espécie de anglo-crioulo entre si).

Muitos juristas, até há poucas décadas, sabiam pelo menos uns rudimentos de latim, e muitos deles, desde 1950, de alemão. O que faz sentido: o nosso sistema é quase inteiramente baseado na ciência legal alemã, e profundamente diferente da matriz da "common law" anglo-saxónica.

Etc.

Obviamente que o conhecimento do inglês é útil: mas dada (a) a inexistência de uma tradição de acompanhamento da cultura saxónica até há 20 anos - que faz com que pouquíssimos livros anteriores a essa época estejam disponíveis em bibliotecas, livrarias, etc; e a fraquíssima qualidade das livrarias portuguesas, (onde encontramos, nas secções inglesas, o Dan Brown e o Saramago e pouco mais), o inglês serve, basicamente, em termos culturais, para navegar na net (o que já é bem bom).

Seria preciso também ter em conta que a aprendizagem de um inglês rudimentar é acompanhada pela desitênciam, por parte da escola obrigatória, de ensinar um português limpo.

5:28 AM  
Blogger zazie said...

mas isso é totalmente verdade, Goldmundo. Nesse aspecto estou de acordo. O que penso é que não é por culpa de se introduzir agora o inglês mais cedo.

Quanto ao português sei que já para o próximo ano vai passar a contar com forte percentagem numa prova de exame de qualquer outra disciplina (excepto matemática ou qúimica por ex.)

Só não entendo essa ideia de província do Império. Parece-me que quase estás a dizer que és contra o Inglês porque és contra o imperialismo anglo-saxónico. E isso é disparate porque as línguas tornam-se dominantes por diversas razões que têm tambe´m os seus mecanismos próprios e o mais sensato é usá-las.
Também já houve aquela brilhante ideia de se inventar o esperanto enão pegou. Não pegou porque naõ tinha história. Era uma língua tão a artificial como a linguagem html ":O))

a história impõe-se sempre e ainda bem.

(por acaso tinha uma pergunta para te fazer ali no post das "teorias da conspiração" porque devo ter sido exagerada na minha reacção...)

5:37 AM  
Blogger zazie said...

quanto a Livrarias tens absoluta razão. Eu quase diria que se encontrava maior diversidade há 20 anos do que agora.

A Fnac é multinacional francesa mas apostou no mainstream e as outras que deviam apostar na diferença ficaram caducas. Tirando a Ler Devagar o resto começa a ser mais do mesmo.

Só para te dar um exemplo: não sabia em que casa parava o meu Rabelais e estava a precisar dele.
Decidi ir ao Chiado para comprar o Pantagurel e o Gargantua.
Queres acfreditar que ninguém sabia o que era? não só não tinham como olharam para mim com ar suspeito. Até na Bertrand.

Já estava chateada e lá fui à FNAC. Pois recebem-me na mesma. Não sabiam o que era diziam que não tinham, nem tradução nem em qualquer língua possível.
Aí chateiei-me e disse-lhes: à não? pois então deixe, já sei como se resolve: chego a casa e faço clic na Amazon e daqui a 3 dias entregam-mo à porta.

Bom, aí a rapariga desapareceu e lá me aparece com os dois volumes da Flammarion por menos de 8 euros...

6:00 AM  
Blogger Hugo said...

Não resisto também eu a deixar a alfinetada: antes de ensinar às criancinhas o bom do inglês (ou do francês ou mesmo do alemão), há que lhes ensinar, antes de tudo, a entender a língua-mãe. (estou farto de ver muita gente que fala "estrangeiro" mas é incapaz de entender um poema do Régio, ou do Mourão-Ferreira, quanto mais do Luís Vaz...)

Ora isso só pode ser feito através de dois métodos complementares: (i) o ensino de rudimentos de latim (sabendo gramática latina, a aprendizagem do portugês - bem como a sua compreensão ficam mais fáceis) e (ii) o incentivo da leitura: não se fazem omoletes sem ovos, tal como não se aprende a escrever português sem ler os clássicos...

4:54 AM  
Blogger Goldmundo said...

Claro (para o Hugo)

8:47 AM  
Blogger Amora Silvestre said...

A introdução do Inglês mais cedo no ensino não implica a não existência de outras línguas. No ensino secundário, os alunos que seguem o 4º Agrupamento, podem optar entre o Alemão, o Latim, o Grego, como tem acontecido nos últimos anos. Não é só nos colégios privados. É no ensino público também.

1:41 AM  
Blogger Goldmundo said...

O simples facto de a opção ser o alemão, quando temos entre nós dezenas de milhar de imigrantes de língua russa, é extrordinário. O mesmo para as outras grandes línguas.

Mas eu não falava dos "curriculae". Falo da geral caminhada para a analfabetização, que não é criada pelo Governo mas é bem ajudada por ele.

7:10 AM  
Blogger FMS said...

Falas acima de tudo de iliteracia, e de analfabetismo funcional, que aplicados a quem tem governado desde há 30 anos, são respectivamente causa e consequência do marasmo.

5:44 PM  

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