A Menina Feia e o Príncipe Mercado
Fiquei verdadeiramente entusiasmado com duas crónicas publicadas hoje no Jornal de Negócios, por Pedro Vassalo (a direita católica, conservadora e pró-vida) e por Manuel Caldeira Cabral ( a direita moderna e liberal).
Na primeira, Pedro Vassalo, depois de explicar que a direita não teve derrota nenhuma nas eleições de Lisboa, e depois de afirmar que António Costa tem sete vereadores (tem seis, mas os números sempre fizeram confusão ao rapaz), afirma que "a direita tem tido azar. Freitas desencantou, Cavaco nunca se comprometeu (sempre teve uma agenda pessoal, como agora se percebe), Durão Barroso preferiu servir-se dela, e Santana nunca deveria ter sido o que foi.".
Uma autêntica tragédia - que Vassalo, com originalidade, designa por tsunami. "E já é tempo da direita se assumir, e perder o complexo da menina feia, gordinha, sem graça nem chama, sempre apinocada à última moda para ver se alguém dá por ela e a convida para sair."
Fiquei com pena da menina feia. Que fazer? A solução vinha, inesperadamente, na crónica de Caldeira Cabral (sobre a tragédia do urbanismo):
"... os direitos de propriedade estão muito mal definidos e ainda pior salvaguardados. Imagine-se uma alternativa em que as Câmaras continuavam a regular a construção, mas que os direitos de construção eram atribuídos de uma forma clara e independente. Alguém que quisesse construir para além dos seus direitos teria de os comprar no mercado. E alguém que visse os seus direitos de construção negados, por razões urbanísticas, poderia vendê-los. (...) Actualmente, se uma Câmara definir uma área como espaço verde e a quiser expropriar, paga uma indemnização com base naquilo que definiu. Ou seja, neste caso, o município é legislador, regulador e comprador. Um claro abuso de poder."
Eureka. Vamos apresentar a Menina Feia da "direita católica" ao Príncipe Mercado, a ver se eles se entendem (e nos deixam em paz) ?
Os direitos provenientes do casamento estão muito mal definidos e ainda pior regulados. Imagine-se uma alternativa em que o Estado continuava a regular o casamento, mas em que o direito à infidelidade era atribuído de uma forma clara e independente. Alguém que quisesse ter relações extraconjugais teria de comprar esse direito no mercado. E alguém que se quisesse manter fiel poderia vendê-los. Actualmente, quando o Estado define imperativamente o casamento como um espaço de fidelidade, expropria o cidadão casado do direito fundamental a dormir com quem quiser, e nem sequer o indemniza por isso. Ou seja, nesse caso o Estado é legislador, regulador e nem sequer é comprador. Um claro abuso de poder.
É isto que quer a "Direita"? Se não, espero que compreenda que só deixará de ser apinocada quando deixar, também, de estar enamorada do Pinóquio.
Tenham dó.
2 Comments:
O que o Pedro Vassalo diz é, precisamente, que a 'direita' falhou porque tentou agradar ao Pinóquio, e que é preciso que deixe de o fazer.
Uma das razões porque tenho andado por aqui é a clareza de conceitos que fazes questão de manter, e com uma eficácia que não conheço em mais ninguém! Mas aqui, de repente, baralhas tudo! Aproveitas um arrepiante disparate dum cretino de nascença que se diz de 'direita' e atiras para o mesmo saco o Pedro Vassalo, que teve a infelicidade de usar uma imagem infeliz... Atrás do Pedro Vassalo, sempre para o mesmo saco, vai o catolicismo, o conservadorismo e o pró-vida...
O que é a direita? o que é que dela sobrou depois do paternalismo de Salazar e do PREC? Quem são os conservadores? os que se sentem de direita e que por isso nada têm? (não me refiro a bens, mas sim a com quem lutar, e pelo quê); ou, por exemplo, os sindicatos, que têm como única missão perpetuar o tacho e o privilégio de quem há anos tem o cu bem instalado? (não sou pela precaridade do emprego, mas há aqui uma quadratura de círculo que é preciso tentar resolver!).Porque é que, ao ler o teu post, se fica com a ideia que ser 'pró-vida' é exclusivo da direita católica e conservadora? E, 'last, but not least'(desculpa lá o 'englês'):o que é que sabes tu de catolicismo e de católicos para os meter neste saco?
Dado o rigor que te é característico, acho que não resististe a confundir tudo... só para ser engraçado! Pelo menos, espero que assim seja... porque se foi por amor ao políticamente correto ... bom, então a confusão é total! tornas-te o Pinóquio de ti mesmo..........
Bem, amor ao politicamente correcto não de certeza. E então vamos lá.
A direita "vassálica" conheço-a como a conhece qualquer pessoa que tenha assistido aos movimentos do último referendo de Fevereiro. Por falar nisso, o quarto candidato da lista de Carmona Rodrigues nas eleições de Lisboa é uma destacada figura deles. Falávamos de amor aos Pinóquios????
O que sobrou da direita depois de Salazar? Bem, será preciso perguntar-lhes. Suponho que nada, no que se refere ao tema deste blogue. Nada mesmo. Há coisas que ficaram enterradas, como tesouros abandonados. Mas ninguém as desenterrará.
Os que "se sentem de direita" são quem? Um conselho a esses: façam um "Bloco de direita" e deixem de se lamuriar ou de amuar ou de votar em tontos. Não o farão, bem sei: falta-lhes a vontade, as ideias e a inocência, e sobra-lhes preguiça ou raiva ou ignorância ou desfaçatez. Mais uma vez, estas eleições de Lisboa foram uma lição a meditar.
E há muitas quadraturas de círculo, sim.
Devia continuar e falar da revolução - ouda impossibilidade dela - como prometi também ao Tiger Claw que me comentou mais em baixo. Mas para outra vez será.
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